segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Da África para o Brasil

Ela veio lá de longe. Da terra de Kady até aqui são aproximadamente 9mil km. É muito chão pra correr e muito mar pra atravessar. O motivo da saída da África para o Brasil, mais precisamente a Capital das Pedras Preciosas, é um só, estudar. Há dois anos já é um pouco brasileira, morou por sete meses na terra do Corcovado, conheceu Ipanema e andou pelas ruas do Leblon, aprendeu a nova língua, o português, já que em seu país se fala francês. Conversando com ela a gente tem que pedir pra repetir algumas coisas já que o “r” dela traz uma pronúncia mais arrastada.  Chegou em Teófilo Otoni e estuda economia na UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha), quer apresentar um artigo, montar teses e voltar ao seu lugar de origem. E lá como é? Não, Benin não é a terra do Kuduro, isso aí que você pensou é Angola, lá em Benin se come inhame socado no pilão.

Kady já fez amigos e tem um anjo da guarda. A vizinha que ela chama de mãe, aquele tipo de mulher que gosta de ajudar, cuida da filha preta com esse jeito carinhoso brasileiro, mais precisamente, com o jeito mineiro de ser. Para a negra de 24 anos, olhar forte, sorriso largo e escandaloso tudo é novidade. Tudo é motivo de alegria, a faculdade, os colegas, a professora a praça da Teófilo Otoni pequena. Além de estudar muito, ela faz traduções de alguns artigos do francês para o português e diz com imposição. “ Non, non, eu non uso Google, eu traduzir sozinha”. Até aqui não tem sido nada fácil pra ela, achei estranho, mas não tem um computador para fazer seus trabalhos acadêmicos ou montar um blog e contar pra várias pessoas ao mesmo tempo a experiência de sair de casa e morar em outra nação que antes ela só conhecia pela TV ou por fotos.

Neste lugar abençoado por Deus a africana quer apresentar quem mora por estas bandas um pouco da cultura dela, quer contar histórias de lá, criar estilo, deixar sua marca. Nas horas vagas ensina francês para alguns colegas, passeia, come da nossa comida, ouve nossa música, é apresentada ao Brasil de um jeito mais sutil e divertido que o habitual. Kady não só samba ela cria ritmo por aqui.


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